Ricardo Sousa, campeão do CPR 2RM: “Ainda não temos planos para 2026”

A uma prova do termo da temporada, Ricardo Sousa (Peugeot 208 Rally4) garantiu a conquista do título de campeão de Portugal de Ralis (CPR) 2RM (duas rodas motrizes). Desde 2020 que o filho de Rui Sousa, um dos mais destacados pilotos da história do todo-o-terreno português, figura entre os candidatos à primazia das 2RM no CPR.

Agora, ao fim de uma dezena de anos de carreira e cumprido o primeiro objetivo de qualquer piloto, Ricardo Sousa sonha com voos mais altos, colocando de lado a hipótese de em 2026 estar de novo aos comandos do Peugeot 208 Rally4 da equipa Prolama.

– A ideia, quando se estreou nos ralis, era depois, por influência do pai, Rui Sousa, derivar para o TT?

“A ideia sempre foi querer experimentar algo de novo. O Vítor Calisto, nosso amigo há muitos anos, deu conta ao meu pai que iria lançar um troféu, o qual poderia ser interessante para eu me iniciar na competição. Em 2015 o Vítor avançou com esse projeto e embora tivéssemos um Nissan Terrano II, carro antigo do meu pai, que poderia servir para umas ‘brincadeiras’ minhas no TT, mas decidimos fazer um teste com o Citroen DS3. Sempre gostei, também, de ralis e achei boa ideia apostar nesse troféu. Seria bom para evoluir como piloto e foi esse o caminho seguido a partir de então”.

– Desde o início que tem maior preferência pelos pisos de terra ou de asfalto?

“Nesse capítulo, sem dúvida que sempre preferi os pisos de terra”.

– Foi um longo caminho até chegar à conquista do título de campeão CPR 2RM, com dois segundos lugares (2020 e 2022), dois terceiros (2021 e 2023) e um quarto lugar (2024). Dir-se-á que lhe faltou a “estrelinha da sorte” em várias ocasiões?

“Não sei se foi falta da ‘estrelinha da sorte’, mas o certo é que por diversas ocasiões conseguimos sempre andar no leque dos mais rápidos e na disputa do campeonato, o que para nós era muito bom, só que, por diferentes razões, nunca concluí uma época em primeiro lugar. Por vezes foram problemas mecânicos e num dos anos até tive um acidente grande que comprometeu o resto da época. Claro a ‘estrelinha da sorte’ também é precisa e, felizmente, este ano acho que esteve connosco…”

– Esta época de 2025 era a do tudo ou nada, tipo expirava o “prazo de validade”, para, finalmente, ser campeão 2RM?

“Não era, mas era um bocadinho [sorrisos]! Cada vez é mais difícil arranjar apoios, tivemos sempre muita dificuldade para garantir orçamentos que viabilizassem a participação no CPRM 2RM. Direi mesmo que face às épocas anteriores esta ainda foi a mais complicada nesse sentido e, sinceramente, se as coisas não têm corrido bem logo na fase inicial da temporada, com três vitórias consecutivas, e também os prémios da Peugeot, acho que não teria conseguido disputar as provas todas do CPR”.

– Qual foi o momento mais complicado de 2025?

“Talvez o Rali da Água, em Chaves, porque na semana anterior, num rali em Espanha, da Peugeot Rally Cup Ibérica, debatemo-nos com problemas de motor. Logo a seguir estivemos a trabalhar no carro, com várias madrugadas pelo meio, procurando descobrir a origem da falta de rendimento. Ao contrário das nossas expetativas, não conseguimos resolver o problema a 100 por cento antes do rali começar. E a verdade é que não conseguimos fazer tempos ao nível dos primeiros lugares, sem perceber se era eu que estava em dia não ou as afinações estavam erradas. Portanto, foi complicado gerir tudo isso ao longo do rali”.

– Quais são as “regras básicas” para retirar o máximo partido, em termos de tempos nos troços, do Peugeot 208 Rally4?

“Creio que depende mais do estilo de condução de cada piloto. De qualquer modo, para mim é fundamental tirar o máximo partido da tração que o carro tem e do chassis, de modo a poder fazer as curvas o mais depressa possível. O carro possui um chassis excelente, o motor tem muito binário nos baixos regimes e o segredo a está aí: tentar utilizar bem a faixa do motor e ter a afinação certa. O Peugeot 208 Rally4 é bastante sensível às afinações. Pelo menos para nós, quando acertamos na afinação retiramos uma vantagem grande, em termos de rendimento”.

– Qual foi, até agora, o conselho mais importante do pai Rui Sousa?

“Acreditar até ao fim e nunca desistir. É o conselho que ele sempre me deu e eu ouvi durante os muitos anos que o acompanhei nas corridas. Às vezes uma prova pode não correr como desejamos, mas há que acreditar até ao fim, trilhando o nosso caminho. Fazemos isto, também, para nos divertirmos, é o nosso ‘hobby’, mas embora nem tudo decorra ou acabe como ambicionamos, importante procurar aproveitar sempre o melhor da competição, neste caso dos ralis, e desfrutar”.

– E agora, adeus Peugeot 208 Rally4 e venha um Rally2… Quais os planos para 2026?

“Sinceramente, ainda não temos planos para 2026. Tudo vai depender do Rally de Lisboa. O prémio da Peugeot Rally Cup Portugal é realmente importante, para conseguir experimentar um Rally2, e estamos dependentes disso… Se não conseguirmos alcançar o objetivo de vencer esse troféu, então aí não sei mesmo o que iremos fazer em 2026. Continuar com o Peugeot 208 Rally4 não faz sentido, na minha opinião. Por isso… Não temos nada pensado nem planeado, só depois do Rally de Lisboa começaremos a delinear a próxima época”.