Pedro Câmara Jr: “Não escondo que estou inquieto e desejoso de saltar para dentro de um Rally2”

Vencedor categórico, aos 18 anos, da edição 2025 do FPAK Júnior Team de Ralis, o jovem açoriano Pedro Câmara Jr já sonha, naturalmente, com voos mais altos, mas sempre, como ele próprio faz questão de sublinhar, com os pés bem assentes na terra. Não esconde que persegue a ambição de vir a tornar-se piloto profissional de ralis e enquanto planeia a época de 2026, agora aos comandos de um Peugeot 208 Rally4, conta os dias, com alguma ansiedade, até à… hora de se sentar num Rally2.

O miúdo da Ribeira Grande que ainda antes de vir ao mundo já sentia o pulsar da competição dá sinais de ter a lição bem estudada para tentar a sua sorte num trajeto de quem ambiciona subir, sucessivamente, até ao WRC. 

“Acho que até aprendi primeiro a conduzir que a andar…”

– De alguma forma, sente que nasceu com a velocidade a correr no… sangue? O que falavam sobre si quando era mais miúdo, nos tempos do BTT?

“Sim, o ambiente das corridas, a adrenalina e a velocidade fazem parte da minha essência. Aliás, eu direi… desde que eu ainda estava na barriga da minha mãe. Desde que me lembro que sei conduzir. Era habitual, nos tempos de criança, andar por dentro de carros e em cima de motos ou de bicicletas. Acho que até aprendi primeiro a conduzir que a andar… Tudo isso um bocado por ‘culpa’ do meu pai. Sempre estive metido no mundo das corridas, especialmente de automóveis. Como só agora, aos 18 anos, tive carta de condução e o meu pai deixou de correr é que surgiu a oportunidade, e julgo que no tempo certo, para iniciar a minha carreira nos ralis. Sempre houve pessoas a fazer comentários, até porque não era muito normal um miúdo como eu ser capaz de fazer ‘piões’ ou de andar de lado em diferentes tipos de veículos. Os meus pais ouviam comentários do género ‘ainda vão sofrer bastante quando o miúdo crescer’ ou ‘o que estão a semear agora ainda vão colher no futuro, seja para o bem ou para o mal’. Como eu era demasiado jovem, não prestava atenção a esse tipo de conversas”.

– Já digeriu, em termos de balanço, aquilo que foi a época e a vitória no FPAK Júnior Team de Ralis?

“Felizmente, conseguimos fechar as contas do campeonato a uma prova do seu final. Estou bastante satisfeito e faço um balanço muito positivo desta época. Foi o primeiro passo na minha trajetória nos ralis, cumprindo os objetivos, pois alcancei o que pretendia. Tenho a agradecer à FPAK, bem como aos meus patrocinadores, aos meus pais e a todos os que estiveram envolvidos no meu projeto, o apoio recebido até agora”.

“As comparações que eu teria de fazer eram com o meu ritmo

e analisar a evolução do mesmo”

– Sentia, logo no início, que estava uns furos acima dos seus adversários?

“Não sou pessoa de me comparar aos adversários, ainda por cima numa modalidade como os ralis, em que a perfeição é fundamental. Ou seja, as minhas contas são… comigo e tento evoluir sempre. Poderia haver algumas referências em relação a pilotos de topo, mas, neste caso, como não houve nenhum mais rápido do que eu, nunca pude tirar conclusões desse tipo. As comparações que eu teria de fazer eram com o meu ritmo e analisar a evolução do mesmo. Foi isso que fui fazendo e é esse registo que pretendo manter nos próximos anos, subir de patamar, em termos evolutivos, sempre com os pés bem assentes na terra, traçando um percurso bastante sólido e rápido”.

“O BTT deu-me vantagem a nível de reflexos e da leitura do terreno”

– Ter competido no BTT ao mais alto nível, deu-lhe asas para dispor de uma pequena vantagem no início de carreira nos ralis? Porquê?

“Sim, obviamente, porque tendo sido eu um atleta de alta competição no mundo do BTT isso conferiu-me uma grande bagagem em matéria de experiência e de noção de corridas, quer a nível competitivo quer a nível dos reflexos e da minha abordagem na leitura do terreno. Um carro como os do FPAK Júnior Team já é bastante competitivo, mas em relação à exigência do BTT, eu sinto que no Peugeot 208 Rally6 as coisas ainda acontecem bastante devagar e eu ainda tinha algum tempo para pensar. Como preparação, vou manter os meus treinos de BTT, porque que me permitem, claramente, acumular alguma vantagem, em termos de reflexos e não só, face aos meus adversários dos ralis”.

 – Qual foi a estratégia delineada para a estreia nesta primeira época de ralis?

“Não houve uma estratégia específica. O objetivo foi sempre o mesmo: tentar fazer o melhor possível e vencer no final do ano. Sabia que tínhamos que fazer uma boa preparação, quer a nível do carro quer da equipa e também da minha preparação física, mental e técnica. Fizemos uma preparação bem estruturada, com cabeça, tronco e membros, nunca tentando dar um passo maior que a perna”.

– Quem é, especificamente, que definia o plano a executar em cada rali?

“O principal ‘culpado’ é o meu pai. Ele correu alguns anos ao mais alto nível aqui nos Açores com a Play Racing Team e é quem me orienta e dá aquelas luzes mais importantes no decurso dos ralis”.

 

“O meu sonho é vir a ser piloto profissional nos ralis”

– Lembra-se do maior elogio que recebeu em 2025? Quem foi o autor?

“Recebi elogios de várias pessoas, entre os quais o Kris Meeke e o José Pedro Fontes, mas penso que o elogio que mais ouvia de uma forma generalizada era o de que eu tinha feito uma época além de muito rápida, que isso é importante, muito consistente. Hoje em dia tanto as equipas como os patrocinadores ou as marcas querem um piloto que seja rápido, tenha uma boa imagem, que saiba comunicar, e que no final de contas termine os ralis e esteja presente no pódio.”

– O seu sonho é vir a ser, caso lhe seja dada oportunidade, piloto profissional de ralis? De preferência além-fronteiras…

“Sem dúvida que é para isso que estou a trabalhar. O meu sonho é vir a ser piloto profissional nos ralis. Vou trabalhar e dar o meu máximo para concretizar esse objetivo. Com o apoio dos meus pais e dos meus patrocinadores, vamos tentar tudo para que tal seja possível. Teremos que tomar as decisões certas e fazer tudo a seu tempo. Agora a prioridade será o Campeonato de Portugal e depois, quem sabe, começar pelo Europeu… antes de rumar ao WRC”.

“Em 2026 iremos competir na Peugeot Rally Cup Portugal e na Peugeot Rally Cup Ibérica”

– Para 2026, vai competir no CPR 2RM, mas já vai sonhando em guiar um Rally2, verdade?

“Desde pequeno que sonhava guiar um carro de ralis em competição. Este ano, finalmente, já tive essa oportunidade, mas é evidente que o Rally2 me desperta bastante interesse, até porque o meu pai já guiou um. Não escondo que estou inquieto e desejoso que saltar lá para dentro… Em 2026 iremos competir na Peugeot Rally Cup Portugal e na Peugeot Rally Cup Ibérica com um Peugeot 208 Rally4 e depois, quem sabe, para o ano seguinte, caso as coisas decorram como planeado, ver se conseguimos dar o salto. Senão, iremos continuar pelas 2RM, pois o principal objetivo é criar uma base sólida para estar 100 por cento preparado quando tiver que dar esse salto na carreira”.

– Metaforicamente falando, o que vai pedir este ano ao Pai Natal?

“Se fosse mencionar tudo aquilo que desejo, a lista seria demasiado extensa… O que eu peço é saúde para mim e para a minha família, bem como para todos aqueles que me apoiaram este ano. Se puder vir o Rally4 eu também agradecia…”